domingo, 26 de abril de 2009

27 de Abril: Dia Nacional da Trabalhadora Doméstica

No Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas, a luta é por equiparação de direitos

Milhões de lares brasileiros estão aos cuidados de aproximadamente 6 milhões e setecentas mil trabalhadoras domésticas.

Elas chegam cedo, às vezes levam o pão do café da manhã das famílias às quais prestam serviço, ajudam a cuidar das crianças (muitas vezes ficam mais tempo com os filhos dos patrões do que eles mesmos), limpam, lavam e passam em residências, apartamentos e empresas.
Reconhecimento profissional - No entanto, "apesar das exigências profissionais serem iguais a qualquer outra área de atuação, o trabalho doméstico não é reconhecido como profissão e direitos como Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), seguro-desemprego, hora extra, salário-família e auxílio-acidente, ainda não são garantidos", descreve Ione Santana de Oliveira, Secretária de Política de Promoção da Igualdade Racial da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT (Contracs) e diretora da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas - BA.

Panorama - Dos 6,7 milhões de postos de trabalho no serviço doméstico, apenas 6,2% são ocupados por homens, ou seja, é uma área predominantemente de mulheres, que em geral são negras ou afrodescendentes e com baixo nível de escolaridade.

As trabalhadoras domésticas são vítimas de extensas jornadas, assédio moral e sexual, maus-tratos, baixos salários e tantos outros problemas, com um agravante: a proximidade muito maior da trabalhadora com o/a empregador/a. "No trabalho doméstico a relação empregador x trabalhador é mais próxima que na maioria das outras profissões, o que dificulta a organização da categoria e principalmente deixa as trabalhadoras constrangidas na hora de reivindicar seus legítimos direitos. É uma relação difícil. Muitos empregadores confundem os direitos das trabalhadoras com favor. Não é favor nenhum pagar salário digno, é apenas justiça", detalha Creuza Maria Oliveira, presidenta da Fenatrad (Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas), entidade filiada à Contracs/CUT.

O problema da extensa jornada enfrentada pelas trabalhadoras domésticas é confirmado por um estudo do Dieese sobre emprego doméstico. O estudo apurou, em 2003 e 2004, que numa cidade como Recife 85,2% das trabalhadoras mensalistas com carteira assinada tiveram jornadas superiores a 44 horas semanais, chegando ao pico de 57 horas semanais, só para se ter uma idéia.

Trabalho doméstico infantil - 500 mil crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos estão no trabalho doméstico. E, segundo Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) 23% das crianças e adolescentes de 10 a 14 anos empregadas no trabalho doméstico desempenham jornadas acima de 48 horas semanais. Número que sobe para 30% na faixa dos 15 aos 17 anos.

Lutas históricas - Há décadas, as trabalhadoras lutam por reconhecimento profissional, respeito, valorização e pela conquista de direitos. "Data de 1936 a fundação da 1.ª Associação de Trabalhadoras Domésticas, na cidade de Santos, por Laudelina de Campos Melo. De lá pra cá, as trabalhadoras buscam incessantemente se organizar para conquistar direitos garantidos a outras categorias profissionais", destaca Maria Regina Teodoro, da Direção da Contracs e do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Campinas (SP).

Luta nacional - A equiparação de direitos das trabalhadoras domésticas é uma das principais lutas da Contracs, encampada nacionalmente pelos sindicatos e federações filiados, sejam de trabalhadoras domésticas ou de outros setores filiados à confederação.

"Há, sem dúvida, uma união de esforços e uma forte consciência na Contracs e na CUT sobre a necessidade de valorização, reconhecimento profissional e equiparação de direitos das trabalhadoras domésticas", destaca Ione Santana.

De acordo com a presidenta da Contracs, Lucilene Binsfeld, trava-se uma grande luta em todo o país e em diversas esferas pela equiparação dos direitos das trabalhadoras domésticas: "participamos de reuniões, fóruns de debates e audiências públicas com os diversos ministérios, lutamos pelo registro sindical para os sindicatos das trabalhadoras domésticas e a sustentação financeira dessas entidades, só para citar algumas ações".

Avanços - Nos últimos anos, tanta luta dos sindicatos, federações de trabalhadoras domésticas, da Contracs e da CUT resultou em importantes avanços, como a qualificação profissional e a elevação de escolaridade, por meio do Plano Setorial de Qualificação - Planseq - "Trabalho Doméstico Cidadão", realizado em conjunto com o Governo Federal e que terá continuidade e expansão nos próximos anos.

Outro importante instrumento na luta por dignidade e reconhecimento profissional está em fase de elaboração pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que em 2010 deve apresentar uma convenção sobre trabalho doméstico, a exemplo de inúmeras convenções da OIT, como a 182 que trata da proibição das piores formas de trabalho infantil e ação imediata para sua eliminação.

"A Direção da Contracs quando esteve reunida em março de 2009, deliberou que a entidade e os sindicatos filiados de trabalhadoras domésticas vão buscar participar de todos os espaços de discussão da Convenção da OIT sobre trabalho doméstico, a fim de contribuir com essa importante ferramenta de luta", afirma Lucilene Binsfeld.

Desafios - Permanecem como desafios para toda a sociedade garantir às trabalhadoras domésticas direitos como: horas extras, FGTS obrigatório, seguro-desemprego, salário-família, seguro por acidente de trabalho e adicional noturno.

"Entre avanços e contratempos, esperamos para breve o reconhecimento e a valorização integral do trabalho doméstico no Brasil. Afinal, são 6,7 milhões de trabalhadoras ansiosas por justiça", lembra Regina Teodoro.

Por que 27 de abril?

O dia 27 de abril é considerado o Dia Nacional das Empregadas Domésticas por ser o dia de Santa Zita.

Zita nasceu em 1218 na Itália e devido a sua origem humilde e camponesa, aos 12 anos começou a trabalhar como empregada doméstica, trabalhando para a mesma família por várias décadas.

Generosa com as esmolas aos pobres que batiam à casa dos Fatinelli, nome da família de seus patrões, tirava do seu próprio salário para ajudar aos necessitados.

Após um período de humilhações por parte dos Fatinelli, estes lhe confiaram a direção da casa. Conta-se que uma de suas colegas, com ciúmes, certa vez acusou-a por oferecer esmolas aos pobres.

Surpreendida enquanto saía de casa com o avental cheio de alimentos para visitar uma família necessitada, respondeu ao patrão que levava flores e folhagens. Ao verificarem o que ia no avental, só encontraram flores.

Zita morreu em 27 de abril de 1278. O Papa Pio XII proclamou-a padroeira das Empregadas Domésticas.

Poesia da companheira Ione Santana de Oliveira, Secretária de Política de Promoção da Igualdade Racial da Contracs e diretora da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas - BA


"Quando éramos crianças nossos direitos foram negados

Mas agora com as lutas dos sindicatos aos poucos estão sendo conquistados.


Me buscaram no interior com promessas de brincar e estudar

Quando cheguei aqui me entregaram uma criança para cuidar.


Vim do interior visando o futuro na residência do empregador

Vivenciei o trabalho duro.


Trabalhamos o dia todo organizando sem parar

A noite chega e não consigo descansar

Em um quartinho de despensa, onde todos os objetos ficam lá.


O sol nasceu para todos e nem posso apreciar

Com a dupla jornada de trabalho nem o meu filho eu posso educar.


O sol nasce para todos, mas não posso apreciar

O relógio desperta: tá na hora de acordar.


27 de abril é o dia de maior referência viva das trabalhadoras domésticas por sua resistência."

domingo, 19 de abril de 2009

Situação da mulher é tema de debate em Cruz das Almas







No último 05 de março, no salão principal da Câmara de Vereadores de Cruz das Almas, aconteceu o lançamento da Cartilha da Lei Maria da Penha da Deputada Estadual Neusa Cadore (PT - BA). Na Mesa, a Deputada Neusa Cadore, o Prefeito de Cruz das Almas, Orlando Peixoto (Orlandinho), o Presidente da Câmara de Vereadores, Osvaldo da Paz, a vice-presidente do MULECA (Movimento Unificado de Lésbicas Cruzalmense) também vice-presidente do Grupo OMNI, Débora Valadares, a Presidente da Associação de Mulheres Amigas de Cruz das Almas - AMA, Carmen Oliveira, a Secretária de Políticas Especiais, Ilza Francisca e a Presidente do Coletivo de Mulheres em Luta Jacinta Passos, Rosana Vieira.O público estimado em 150 pessoas, da zona rural e sede, bem como de cidades próximas, lotou a galeria da Câmara. Parte do secretariado, incluindo as quatro secretárias municipais estavam na galeria.

Carmen Oliveira, presidente da AMA, associação que promoveu o evento, e que dialoga conjuntamente com o Grupo OMNI, bem como a secretária Ilza Francisca, mantiveram um discurso uníssono. Ambas falaram de uma conquista local que é o Conselho da Mulher. Segundo Ilza, este Conselho já teve sua crianção aprovada pela Câmara na gestão passada e agora só precisa ser devidamente estruturado para dar início às atividades.

Carmen também solicitou ao prefeito que ele buscasse trazer para Cruz das Almas a Delegacia Especial de Apoio à Mulher - DEAM Territorial. “Devido ao número populacional de Cruz ser pequeno para comportar uma delegacia como esta, pensa-se em uma entidade que comporte todo o Território de Identidade do Recôncavo”, disse. Outra reivindicação da AMA é uma Casa de Passagem para mulheres em situação de violência; uma ferramenta para que ela tenha assessoria jurídica e apoio psicológico a fim de reestruturar sua vida.

Durante sua fala, Débora Valadares apresentou dados colhidos em 2008, quando 3% dos assassinatos de homossexuais na Bahia acometeram mulheres lésbicas (GGB). Também relatou à deputada casos apresentados durante o Seminário do Fórum LGBT, realizado em Feira de Santana, onde adolescentes em São Sebastião do Passé são amarradas ao pé da mesa e espancadas constantemente por pais evangélicos homofóbicos. A deputada mostrou-se surpresa com o fato e disse investigar o caso para que providências sejam tomadas. Ela ressaltou o Grupo OMNI pela coragem de colocar um movimento tão oprimido como é o movimento LGBT, ainda mais num cenário que se diz super conservador, católico e homofóbico como é a cidade de Cruz das Almas.

Neusa falou da importância da Lei Maria da Penha, inclusive para casais de lésbicas. Segundo a deputada, a violência contra a mulher ocorre em vários âmbitos: físico, psicológico, em caráter heterossexual e homossexual também. Neusa reafirmou a necessidade que a mulher agredida tem de denunciar seu agressor e lutar para que sua punição seja efetivada como manda a lei. Entretanto, esse trabalho perpassa várias instâncias, principalmente internamente na mulher que sofre as agressões, pois muitas vezes ela é dependente do agressor.

Entretanto, o ponto mais alto do evento foi a retratação pública do Prefeito Orlandinho, que esclareceu que o Governo do Povo não é homofóbico, reiterando constantemente esta fala. Orlandinho admitiu a legitimidade do OMNI enquanto entidade, e, finalmente garantiu que irá sentar à mesa com as representantes e descortinará uma nova realidade para o movimento homossexual de Cruz das Almas. Desta vez, Orlandinho se mostrou sensível e comprometido com a causa, mesmo tendo reafirmado que escutou o que os outros homossexuais disseram ao queixarem-se ao prefeito por não estarem dentro da militância.

O vereador Uberdan Cardoso (PT), de Santo Antônio de Jesus, que esteve no evento, se comprometeu a levar esta provocação ao seu município.

Por Débora Valadares